25 de set. de 2010

Dica do Xaxim: Boston - Boston (1976)


Muita gente torce o nariz para a banda Boston porque o grupo foi um dos primeiros expoentes do gênero chamado AOR, que prima por melodias vocais grudentas sobre um rock/pop levado ao extremo e encharcado de camadas de instrumentos. O gênero é constantemente acusado de banalizar o rock ao abusar de estruturas simples e letras melosas, e esta banda talvez seja a mais atacada neste sentido, o que é uma baita injustiça.

Pelo que entendo, o mesmo massacre acontece em menor escala, por exemplo, com outro expoente do gênero, o Kansas. Isto se justificaria pelo fato de que esta banda tinha influências mais evidentes de rock progressivo, com algumas estruturas e harmonias mais complexas em seus primeiros discos, o que é fato. Entretanto, este raciocínio me parece incompleto por dois motivos: primeiro, porque o Boston também apresentava estruturas harmônicas mais complexas, embora em menor escala; segundo, porque dentro da proposta do AOR a banda lançou o melhor disco do gênero, justamente o de estreia.

Composto de oito músicas, Boston, gravado em 1976, começa com a ótima “More Than a Feeling”. Não é por acaso que essa canção é a mais famosa do grupo: trata-se de uma balada com trechos de guitarras distorcidas (fórmula que viria a ser utilizada à exaustão por outras bandas durante muitos anos), com melodias vocais inteligentes e refrão que gruda na cabeça, acompanhada de marcação por palmas e um riff de guitarra simples, mas muito eficiente.

O disco não fica nisso. Após o início matador, segue a ótima “Peace of Mind”, que não é tão romântica, mas que ainda apresenta melodias vocais inteligentes, emprestando as polifonias típicas do Queen. Depois dela, segue a melhor música gravada pela banda: “Foreplay / Long Time” mostra referências de rock progressivo de primeira linha em sua abertura, para depois culminar no AOR clássico, com riffs elétricos e acústicos que empolgam, vocal grudento, etc. Um musicaço!

As demais faixas do disco não deixam a peteca cair, entre as quais destaco a ótima “Hitch a Ride”, que tem uma levada mais roqueira. No todo, Boston é daqueles álbuns tão marcantes e competentes que ajudaram a criar um estilo e que influenciaram muita gente. Se o que veio depois é bom ou ruim, é outra conversa.

12 de set. de 2010

Dica do Xaxim: Mike Rutherford - Smallcreep's Day (1980)


Mike Rutherford é o “patinho feio” do Genesis. Nunca teve grande destaque como baixista na fase áurea do grupo ou como também guitarrista após a saída de Steve Hackett, quando a banda enveredou por um som mais pop, para o qual muita gente torce o nariz, o que não é meu caso. Acho que mesmo nesta fase foram gravados bons discos que contam com canções excelentes.

Embora eu não seja fã apenas da fase exclusivamente progressiva da banda e mesmo curtindo algumas das composições do baixista / guitarrista (como “Your Own Special Way” e “Man of Our Times”), confesso que até há pouco tempo não procurei ouvir seu trabalho solo. Conheço os trabalhos dos outros integrantes da banda em carreira solo (todos eles com altos e baixos, em minha opinião), conheço algo da banda paralela do Rutherford, o Mike + The Mechanics, mas nunca me interessei por pesquisar mais.

Meu amigo André, conhecido de longa data de fóruns sobre o Marillion (banda da qual somos fãs), me chamou recentemente a atenção para o primeiro disco do cara, Smallcreep’s Day, gravado em 1980. O disco confirma a vertente pop do Genesis e também mistura influências progressivas com um som mais acessível de muita qualidade. Cheio de boas melodias, o disco agrada do começo ao fim.

O disco conta com bons músicos, como Noel McCalla nos vocais e Simon Phillips nas baquetas, além de Anthony Phillips, primeiro guitarrista do Genesis, desta vez mostrando seus talentos nos teclados. O álbum contém cinco músicas individuais com a vertente pop citada (incluindo algumas baladas), entre as quais destaco “Romani”, (que caberia no bom álbum Wind and Wuthering, do Genesis) e “Overnight Job”(também mais elaborada e com algumas variações).

O grande charme do disco, entretanto, é a faixa-título, dividida em sete partes. Em linha com o som mais acessível que começava a ganhar espaço na época, a estrutura típica progressiva com trechos orquestrados torna a coisa ainda melhor, em que as partes funcionam bem tanto individualmente quanto no conjunto da obra. Entre as partes, merecem destaque a abertura “Between the Tick and the Tock”, a instrumental “Out Into the Daylight” e “At the End of the Day”, que encerra a obra de forma sublime.

Smallcreep’s Day se revelou uma grata surpresa ao misturar de forma eficiente pop, rock e progressivo. É daquelas surpresas que nos fazem ter certeza de que ainda há muita coisa boa a ser ouvida. Sem saudosismo ou preconceitos.