
Pelo que entendo, o mesmo massacre acontece em menor escala, por exemplo, com outro expoente do gênero, o Kansas. Isto se justificaria pelo fato de que esta banda tinha influências mais evidentes de rock progressivo, com algumas estruturas e harmonias mais complexas em seus primeiros discos, o que é fato. Entretanto, este raciocínio me parece incompleto por dois motivos: primeiro, porque o Boston também apresentava estruturas harmônicas mais complexas, embora em menor escala; segundo, porque dentro da proposta do AOR a banda lançou o melhor disco do gênero, justamente o de estreia.
Composto de oito músicas, Boston, gravado em 1976, começa com a ótima “More Than a Feeling”. Não é por acaso que essa canção é a mais famosa do grupo: trata-se de uma balada com trechos de guitarras distorcidas (fórmula que viria a ser utilizada à exaustão por outras bandas durante muitos anos), com melodias vocais inteligentes e refrão que gruda na cabeça, acompanhada de marcação por palmas e um riff de guitarra simples, mas muito eficiente.
O disco não fica nisso. Após o início matador, segue a ótima “Peace of Mind”, que não é tão romântica, mas que ainda apresenta melodias vocais inteligentes, emprestando as polifonias típicas do Queen. Depois dela, segue a melhor música gravada pela banda: “Foreplay / Long Time” mostra referências de rock progressivo de primeira linha em sua abertura, para depois culminar no AOR clássico, com riffs elétricos e acústicos que empolgam, vocal grudento, etc. Um musicaço!
As demais faixas do disco não deixam a peteca cair, entre as quais destaco a ótima “Hitch a Ride”, que tem uma levada mais roqueira. No todo, Boston é daqueles álbuns tão marcantes e competentes que ajudaram a criar um estilo e que influenciaram muita gente. Se o que veio depois é bom ou ruim, é outra conversa.