21 de abr. de 2011
Dica do Xaxim: Gazpacho - Night (2007)
Na década passada, algumas bandas de progressivo começaram a absorver o som melancólico de bandas da década anterior (entre as quais a maior influência talvez seja o Radiohead) e passaram a apresentar um estilo com escalas em tons menores que vão em direção contrária ao tradicional rock sinfônico, que enfatiza progressões em tons maiores quase sempre em direção ao clímax musical de forma sublime.
Com o acesso às novidades facilitado por mídias especializadas e pela internet, este estilo mais melancólico ganhou força fazendo uso de um círculo virtuoso. Enquanto novas bandas mostravam essas novas tendências, outras bandas já estabelecidas passaram a fazer uso dessas influências em tentativas de mudar seu som, o que por sua vez influenciou novas bandas ou mesmo aquelas que lançaram a tendência.
Dentre as bandas já estabelecidas que incorporaram essas tendências ao seu som, o Marillion me parece o exemplo mais evidente. Das novas bandas que mostraram essa tendência desde cedo e a aprimoraram através do círculo virtuoso, a banda norueguesa Gazpacho é em minha opinião a que atingiu melhores resultados, e Night, o quinto disco da banda gravado em 2007, é o melhor trabalho dos caras.
O álbum é composto de cinco faixas, sendo que a menor delas conta com quase sete minutos de duração. Não se trata de um disco fácil de ouvir. Ao contrário, as faixas parecem insistir no uso do tom melancólico ressaltado pelos bons vocais de Jan Henrik Ohme. O que impressiona no disco é que os caras utilizam esse expediente de forma sempre equilibrada, que não cansa: as faixas contem lá suas progressões em direção ao clímax musical, mas este expediente não é o objetivo principal; ao contrário, as regressões apresentadas de forma frequente e insistente são partes igualmente importantes das músicas.
Mais que isso, os arranjos apresentados ao longo das faixas são muito bem pensados e fazem sentido no conjunto da obra. Não espere ouvir neste disco solos virtuosos, porque não há. Há, sim, espaço para passagens instrumentais climáticas, viajantes, que não chegam perto dos vários ótimos grupos de rock mais famosos. A questão aqui é que a intenção dos caras não é apresentar virtuosismo, mas sim apresentar arranjos que fazem o ouvinte viajar. E isso os caras fazem com enorme competência.
Este é um daqueles álbuns surpreendentes, que apresentam arranjos ousados e de bom gosto que fazem a gente viajar. Pra citar um exemplo mais concreto, é um álbum que mostra mais o começo pacífico de “Soon” do que a guerra intensa da maior parte de “Gates of Delirium”. É daqueles discos pra se ouvir com as luzes apagadas e curtir cada instante de sua viagem. Em resumo, um discaço!
16 de abr. de 2011
Dica do Xaxim: Locanda delle Fate - Forse le Lucciole non si Amano Più (1977)
O Rock Progressivo Italiano é um movimento pra lá de reconhecido. Durante a década de 70, os caras da terra da bota deram a impressão de se lembrarem do período da Renascença e mandaram ver no rock progressivo. Várias bandas de lá lançaram ótimos discos do gênero, claramente influenciados pelo rock progressivo vindo da Inglaterra, mas com um charme especial latino que acabou criando um subgênero exclusivo para designar a origem do som.
Dentre os vários ótimos discos do tal subgênero, um deles se destaca por três motivos. Primeiro, porque Forse le Lucciole non si Amano Più, da banda piemontesa Locanda delle Fate, é um álbum tardio, lançado em 1977, quando o rock progressivo começava a perder força para o movimento punk. Segundo, por ser o álbum de estreia da banda (e infelizmente o único do período). Terceiro (e principal), porque o álbum contém arranjos sublimes em todas suas faixas.
Contando com apenas uma ótima faixa instrumental, o disco apresenta letras em italiano bem cantadas pelo vocalista Leonardo Sasso, sempre com um estilo sinfônico cheio de progressões. A qualidade das composições, entretanto, faz com que o álbum não soe repetitivo; ao contrário, apesar de apresentar o mesmo estilo, as faixas vão se sucedendo e deixando o ouvinte querendo mais.
Além do vocalista, todos os músicos eram muito competentes. Uma das coisas que chama a atenção na banda é o fato de contarem com dois guitarristas e dois tecladistas, o que não é comum, mas demonstra que os arranjos foram muito ensaiados. Mais do que isso, nota-se claramente o que cada integrante está tocando, sem que o som saia embolado, o que é um feito para a época em que o álbum foi lançado.
É muito difícil escolher uma música que se destaque, o que mostra que o disco é uma obra-prima, que é devidamente reconhecida por quem já ouve o rock progressivo da Itália, mas que não é muito conhecida por quem aprecia as principais bandas inglesas do gênero e se restringem ao PFM ou ao Banco. O único disco do Locanda delle Fate é uma joia rara, obrigatória para quem curte o progressivo tradicional da década de 70.
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