19 de fev. de 2011

Dica do Xaxim: Marillion - Seasons End (1989)


Faz tempo que não escrevo sobre um bom álbum não muito reconhecido de uma banda mais famosa, e certamente Seasons End, o primeiro do Marillion com Steve Hogarth nos vocais, se encaixa nessa categoria. Mais do que isso, me atrevo a dizer que este disco chega a ser injustiçado apenas porque não conta com o vocalista original.

Depois da conturbada separação entre o vocalista Fish e a banda, que juntos lançaram quatro bons ou ótimos discos e foram responsáveis por manter mais ou menos vivo o rock progressivo nos anos 80, os membros remanescentes buscaram um substituto que não lembrasse o antecessor, e acabaram encontrando o parceiro ideal no vocalista e tecladista que antes passou pelas bandas Europeans e How We Live.

Seasons End
mantém muito do som tradicional da banda, embora traga algumas novidades. A primeira é a presença do novo vocalista. Embora não seja tecnicamente genial, assim como Fish tampouco o é, Steve Hogarth transpira emoção em todas suas interpretações, e em minha opinião só não é tão reconhecido quanto seu antecessor porque não se maquia e não apresenta atitude tão influenciada por Peter Gabriel.

A segunda novidade se apresenta em alguns momentos em que a banda se aproxima do pop, mais evidente em “Hooks in You”, que fez certo sucesso nas rádios e em “Berlin”, que soa como se o U2 em seu auge encontrasse o progressivo, nesse caso atingindo ótimos resultados. Esta mudança ficaria mais evidente em seus discos seguintes, embora a banda nunca tenha deixado sua veia progressiva morrer.

Por fim, a última novidade se nota nas letras. A primeira fase contou com letras muito inteligentes, que criticavam vários aspectos sociais e individuais da vida moderna, mas com tendências depressivas. Nesta nova fase as letras assinadas por John Helmer e pelo novo vocalista continuam inteligentes, mas se apresentam de forma mais elegante e com um tom mais positivo. As letras de “Easter” e “The Space” são daquelas que estapeiam o ouvinte chamando a atenção para aspectos simples mas sempre esquecidos da vida, e que dão margem a várias interpretações.

No todo, Seasons End é um daqueles grandes álbuns em que todas as músicas são boas, por vezes brilhantes, contando com ótimas melodias instrumentais e vocais. Embora toda a banda se apresente bem, o guitarrista Steve Rothery se destaca. Mais do que isso, naquela época ele estava em seu auge, motivo mais que suficiente para ouvir este dicaço!

Inté!

12 de fev. de 2011

Dica do Xaxim: The Third Ending - The Third Ending (2006)


Estive revisitando o ótimo disco de estreia (e por enquanto o único) da banda australiana The Third Ending, e me lembrei de que em 2007 escrevi uma resenha sobre o disco no site ProgBrasil, cujo link pode ser encontrado na seção de bons sites do lado direito da página.

Como minhas opiniões sobre o álbum continuam essencialmente as mesmas e a banda ainda é pouco conhecida, o que se encaixa no perfil das Dicas do Xaxim, resolvi republicar o texto por aqui, em itálico e com uma ou outra edição. Como sempre, espero que vocês curtam mais esta dica!

A grande maioria das principais bandas que fizeram sucesso no mundo progressivo a partir do fim da década de 80 e início da década de 90 derivaram seus sons de outras bandas progressivas, adicionaram elementos não chamados de progressivos até então e criaram seu próprio som.

Citarei aqui três exemplos. O Dream Theater misturou o power metal do fim da década de 80 a composições longas e estruturas típicas do progressivo tradicional dos anos 70 com o uso de teclados, o que, aliado à extrema competência de seus músicos, fez com que a banda se tornasse o principal expoente do chamado prog-metal.

O Porcupine Tree se influenciou do prog psicodélico do Pink Floyd e o misturou com o som mais depressivo do Radiohead, o que, aliado a belas melodias vocais, a um som típico do metal moderno e à extrema competência de Steven Wilson e seus comparsas, fez com que a banda se transformasse no principal expoente do progressivo atual.

O Spock's Beard em vários momentos lembra as estruturas de bandas clássicas do progressivo dos anos 70 (Gentle Giant, Genesis e Yes me parecem as influências mais evidentes), misturando todas essas características numa banda única, o que, aliado a guitarras distorcidas típicas do grunge do início dos anos 90 e à extrema competência e carisma do Neal Morse, fez com que a banda se transformasse em uma das principais responsáveis por mais um renascimento do progressivo tradicional.

Não se pretende aqui incluir uma tese sobre o desenvolvimento do progressivo atual ou enaltecer as bandas citadas e outras que não foram citadas. O que se pretende demonstrar é o que está descrito no primeiro parágrafo, ou seja, que bandas são influenciadas por outras e que, se forem bastante competentes, acabam criando sua própria identidade.

De qualquer forma, você que lê esta humilde resenha deve estar se perguntando o motivo de eu citar estas três bandas que derivam de outras. Eu devolvo a pergunta: independentemente de concordar ou não com minhas opiniões, consegui despertar sua atenção ao citar estas três bandas? Se consegui, é provável que esta resenha seja de seu interesse.

The Third Ending, disco de estreia de mesmo nome da banda australiana (mais precisamente da Tasmânia), é um álbum que deriva de outras bandas. Mais especificamente, do som do Dream Theater, ao incluir alguns trechos de prog-metal (caso da ótima instrumental "Tungsten Blues" e de trechos da suíte final); do som do Porcupine Tree, ao incluir sons mais eletrônicos, progressões com belos solos e melodias mais depressivas (casos de "Eleven", "Back Home", "Can You Hear Me?" e de trechos da suíte final).

E do som do Spock's Beard, ao incluir órgão e belas melodias vocais que grudam na cabeça aliadas ao som de pianos e violões em arranjos muito bem pensados (caso de "Can You Hear Me?"); ao incluir uma suíte dividida em várias partes (caso da suíte final, cuja estrutura remete a "The Healing Colours of Sound", que vai de "Fingerprints" até "Fingerprints (reprise)", e que conta com um refrão revisitado em outro arranjo); isso sem falar nas ótimas melodias vocais e no timbre do vocalista Nick Storr.

O que chama muito a atenção no disco é que essas derivações são evidentes e mesmo assim o resultado final é excelente, assim como nos discos das bandas das quais o The Third Ending deriva. Isso acontece ao meu ver por um motivo quase óbvio: a banda mistura suas várias influências em uma mesma música, o que parece simples, mas raramente isso é executado com tamanha competência porque exige enorme esforço de composição para não se tornar meramente derivativo, e é isso o que confere à banda uma identidade própria, exatamente como feito anteriormente pelas grandes bandas que a influenciaram.

Não há uma única música neste disco que não seja no mínimo boa, e por isso é difícil encontrar destaques, o que é um ótimo sinal. Este álbum é daqueles que deixam o ouvinte viajando e querendo mais, o que é um enorme feito para um disco de estreia. Fica aqui a torcida para que esses caras mantenham esse nível nos discos seguintes, porque o primeiro já é um disco de gente grande e talentosa.