
Em seu próprio trabalho, entretanto, a praia do cara foi o rock progressivo moderno misturado com rock/pop. Dono de um enorme talento para compor melodias efetivas pra lá de agradáveis, além de bom cantor e bom multi-instrumentista, ele gravou dois discos com a banda Giraffe (*) e outro com o Toy Matinee, que nunca tiveram sucesso comercial, apesar de bons discos. Além disso, participou da mixagem dos dois primeiros do Spock’s Beard, desenvolvendo especial amizade com o baterista Nick D’Virgilio.
Em 1995, ele gravou também um disco solo, o bom Thud, e morreu em 1996, quando contava apenas 29 anos. Quatro anos mais tarde, o baterista do Spock’s Beard foi convidado a finalizar as gravações do que seria seu segundo disco solo, The Shaming of the True. Mesmo com todos os vocais do compositor (que ficaram muito bons), nota-se que o baterista empenhou-se em engrandecer o nome de seu amigo, porque o resultado é um discaço, talvez o melhor disco póstumo que já ouvi.
O álbum é conceitual e gira em torno da estória de Johnny Virgil, um jovem e talentoso músico que conhece o sucesso de uma hora pra outra, quando começa a enfrentar os problemas de quem passa por este tipo de situação (exageros, frustrações, até mesmo raiva e vergonha). Apesar da temática sombria, o disco alterna de forma magistral momentos de empolgação do personagem com outros mais raivosos e outras baladas mais introspectivas, sempre mesclando elementos de progressivo com pop de muita qualidade.
Musicalmente, as influências de Genesis, Gentle Giant (em algumas polifonias vocais) e David Bowie são nítidas, mas é importante dizer que o disco tem uma personalidade própria e a mistura é diferente das influências citadas. O disco tem vários destaques, mas cito como minhas favoritas as faixas “Parade”, “Water Under the Bridge”, “The Way Back Home” (esta, em especial, seria destaque em qualquer disco do Genesis da década de 80 em diante) e “Johnny’s Last Song”, que mostra de forma magistral o ocaso de um artista que não se arrepende de ter conhecido o sucesso, cometido exageros, largado tudo e voltado para casa.
Infelizmente, isso não aonteceu com o próprio compositor, que não conheceu tamanho sucesso sabe-se lá por que e voltou pra sua casa mais cedo do que imaginava.
(*) Informação corrigida graças ao João Affonso, fãzaço do Kevin Gilbert e quem me indicou o disco já há bastante tempo. Valeu!