29 de dez. de 2011
Dica do Xaxim: Supertramp - Even in the Quietest Moments... (1977)
Resolvi dar uma pausa nas dicas de melhores discos do ano para falar sobre mais um grande disco de uma banda do segundo escalão. OK, o Supertramp é bem conhecido por muita gente, mas não dá pra dizer que seja daquelas citadas por muita gente como uma banda top.
Quem conhece e curte a banda costuma relacionar os álbuns Crime of the Century e Breakfast in America como grandes discos, e têm razão em classificá-los desta forma. São mesmo dois discaços, embora com estilos um pouco diferentes. Entre os dois álbuns citados a banda lançou outros dois discos, sendo que Even in the Quietest Moments... é quase do mesmo nível dos mais famosos da banda, mas não é tão reconhecido sabe-se lá porquê.
Pra começar, o disco contém as famosas e excelentes “Give a Little Bit”, “From Now On” e “Fool’s Overture”, esta última talvez uma das três melhores músicas gravadas pelo grupo e que apresenta claras influências de rock progressivo (que não era a tônica do grupo). A questão é que todas as demais músicas do disco são boas. Tanto “Lover Boy” quanto “Downstream” e “Babaji” são deliciosas. E como não se apaixonar pelo folk rock da faixa-título, com uma progressão constante tão típica da banda?
Even in the Quietest Moments... é um grande disco, gravado por uma ótima banda que estava pra lá de inspirada. Pra mim, é um disco obrigatório pra quem curte boa música.
Até!
24 de dez. de 2011
Melhores de 2011: Man on Fire - Chrysalis
Não dá pra dizer que a banda americana Man on Fire seja comum. Já na estrada há um bom tempo, os caras sempre gravaram discos que misturam vários estilos e tendências. O problema é que a banda nem sempre acertou a mão, o que resultou em discos irregulares.
Já tinha ouvido os álbuns anteriores dos caras e sempre tive a impressão de que eles nunca tiveram medo de sair do lugar comum, mas como os resultados eram variados, minha opinião sobre eles era a seguinte: apesar de competente, a banda por vezes derrapa feio, mas quando acerta a mão, sai de baixo.
Em estilo, na maior parte do tempo a banda soa como uma mistura do groove do Jamiroquai com o rock do Faith No More, mas sem o acid jazz do primeiro e a voz forçada de pato do segundo. A este caldeirão a banda adiciona algumas pitadas de rock progressivo, mas eu não diria que é a principal influência da banda.
Em Chrysalis, o quarto disco do grupo lançado após seis anos, os caras mais acertam do que erram. O novo álbum repete a fórmula dos discos anteriores ao misturar (em ótima produção) rock com tendências modernas dos mais variados estilos, mas soa mais maduro. Além disso, a presença em algumas faixas de vocais femininos emprestados da soul music, o que não é algo original, conta com arranjos ficaram legais que casaram bem com o som da banda.
Entretanto, a principal característica da banda é a habilidade de compor músicas com arranjos complexos, modernos e que servem de suporte a ótimas melodias, por vezes com apelo pop. Esta característica, já demonstrada em algumas faixas nos discos anteriores, dá mais as caras no novo álbum, motivo pelo qual eu o considero o mais maduro do grupo até agora.
Neste sentido, a faixa “Gravity” se destaca ao encerrar o álbum com dez minutos variados, além de “A (Post-Apocalyptic) Bedtime Story”, esta uma faixa mais direta e apaixonada, com bons arranjos por vezes sinfônicos e ótima presença do vocalista Jeff Hodges, também responsável pelos teclados. Mas a grande música do disco é “Repeat It”, que abre o álbum: moderna, com um groove pegajoso e um refrão empolgante, é daquelas músicas deliciosas que a gente nunca consegue ouvir sem repetir.
O trocadilho, neste caso, é proposital. ;-)
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18 de dez. de 2011
Melhores de 2011: Magenta - Chameleon
Depois de três anos, a banda galesa Magenta lançou seu novo disco, Chameleon. Já falei sobre eles várias vezes por aqui, e acho que não é novidade que se trata de uma de minhas bandas preferidas do cenário atual, apesar do grupo não apresentar uma proposta original.
Pelo que pude entender das entrevistas da banda, os caras tinham material para gravar dois discos de estilos um pouco diferentes, um mais calcado no progressivo sinfônico, estilo em que a banda se sente mais à vontade, e outro com músicas mais curtas que pendem mais pro pop. Eles acharam que era hora de dar uma variada e acabaram priorizando a segunda opção.
Essa tendência não chega a ser uma novidade no trabalho da banda. Pra começar, antes de que a vocalista Christina Booth e o tecladista Rob Reed formassem a banda, eles gravaram um EP sob o nome de Trippa, alcançando bons resultados. Além disso, o terceiro disco da banda, Home, também apresenta tal tendência e também alcança bons resultados.
Entretanto, Chameleon na média não alcança resultados tão bons. Isto acontece a meu ver porque a banda parece em alguns momentos ficar em dúvida entre gravar uma faixa pop, o que entendo geraria protestos de seus poucos fãs, e manter uma linha melódica mais sinfônica. Assim, o disco contém algumas faixas que são apenas razoáveis, casos de "Breathe" e "Raw".
Mesmo com estes pontos negativos, o disco tem suas virtudes. Destacam-se as faixas "Guernica", "Book of Dreams" e "Red", esta uma balada com ótimas melodias e que fecha o disco em grande estilo. Os ótimos arranjos também dão as caras, com boas presenças tanto do tecladista Rob Reed quanto do guitarrista Chris Fry.
E como não poderia deixar de ser, a vocalista Christina Booth mais uma vez é o grande destaque. Ela parece incapaz de cantar mal, seja qual for o estilo. Mesmo que as faixas do disco não estejam entre suas interpretações mais brilhantes, sua voz continua tornando as músicas melhores. Tão melhores que acabam fazendo com que Chameleon esteja entre os melhores discos do ano.
Até!
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4 de dez. de 2011
Música do ano: Yes - We Can Fly
Vou abrir uma exceção aqui: não falarei sobre um grande disco, nem sobre um dos melhores discos do ano. Falarei sobre uma única música excepcional daquelas que fazem a gente ouvir de novo e de novo e de novo. Para mim a melhor música do ano, e que música!
Não pretendo babar ovo por aqui e se um disco não está entre os melhores do ano, entendo que ele não merece uma dica, mesmo no caso em que o lançamento seja de uma banda consagrada. Mesmo sendo do Yes, minha banda preferida. Como venho tentando ser cada vez mais eclético e minha preferência por eles continua imutável, isso não representa pouca coisa. Neste ano, os caras voltaram com a formação do ótimo Drama, sendo que Trevor Horn ficou responsável somente pela produção (na qual é um cara de indiscutível competência) e Benoit David assumiu os vocais.
O disco, na média, fica devendo. Os caras optaram por lançar uma suíte longa, dividida em partes, que apresenta altos e baixos. As demais músicas apresentam resultados irregulares, o que faz com que o disco esteja longe de ser um dos destaques da banda. Mas uma das partes da suíte representa o ponto alto do disco. Mais que isso, trata-se de um musicaço, que incorpora muitas das características que fazem do Yes minha banda favorita. E isso merece, sim, um comentário elogioso.
“We Can Fly” foi originalmente composta na época do Drama, o que por si só já é um atestado de qualidade. Sou daqueles fãs do Yes que venera o Jon Anderson, mas que reconhece o esforço da banda mesmo sem um de seus mentores. Isso acontece em meu caso porque entendo que, além do vocalista, a banda tem outro mentor, que atende pelo nome de Chris Squire. Em Drama, que conta com os também ótimos Alan White e Steve Howe, a banda superou a ausência do mítico vocalista e apresentou um ótimo disco de rock progressivo antenado com as tendências da época.
Pois bem, a banda teve a feliz ideia de lançar de forma oficial a faixa composta há mais de 30 anos, inserindo-a numa suíte. Questiono a decisão, porque a música se destaca muito em relação ao todo; por outro lado, aplaudo a decisão, porque a mesma desta vez recebeu o tratamento que merece em temos de produção. Composta por Trevor Horn e Geoff Downes, a música apresenta a ênfase em melodias que grudam no ouvido típicas dos Buggles. Também composta por Chris Squire, a faixa apresenta as progressões e regressões que fazem desta música especial.
Mais que isso, a música conta com os bons vocais de Benoit David, que emula o timbre do Jon Anderson sem deixar de imprimir sua personalidade. Mas é o baixista quem realmente se destaca, tanto ao apresentar suas características linhas inquietas quanto ao mostrar com a competência de costume os arranjos polifônicos, algumas vezes assumindo a voz principal, que é ótima!
O resultado final é uma música excelente, que mesmo não estando entre as principais da banda, mostram a competência de uma banda muito acima da média. Sozinha, esta música vale o disco!
Melhores de 2011: Anubis - A Tower of Silence
Uma das boas surpresas deste ano é o segundo disco da banda australiana Anubis. Interessei-me em ouvi-lo após ler vários elogios por aí. Embora minha experiência mostre que quase sempre os elogios são exagerados, neste caso isto aconteceu em menor grau.
Formada em 2004, a banda lançou seu primeiro álbum em 2009. Em seu segundo trabalho, A Tower of Silence, os caras apresentam um rock progressivo que mistura estruturas clássicas do gênero com outras mais características do neo-prog, fazendo uso por vezes de riffs um pouco mais pesados. A banda lembra em estilo os conterrâneos do The Third Ending (já indicados aqui), mas com menos ênfase em tons modernos e com menor brilho.
A primeira faixa, a suíte “The Passing Bell”, conta com 17 minutos de duração e demora um pouco para engrenar, o que acontece lá pelo décimo minuto. Daí em diante a música flui melhor, com as partes se alternando em bons arranjos e progressões que culminam em um ótimo solo de guitarra no final que parece ter sido gravado pelo David Gilmour. Além da suíte, a faixa-título também se destaca por apresentar uma boa balada com variações, mais uma vez melhorando na segunda metade e neste caso atingindo ótimos resultados.
Outro destaque do disco é a faixa “The Holy Innocent”. Trata-se de mais uma música um pouco longa (neste caso, quase 12 minutos) que demora pra engrenar, mas o final apresenta um bom solo de saxofone, que, embora não seja virtuoso, casa muito bem com apoteose imaginada pela banda. A faixa mais bem resolvida do disco é a última, “All That Is”, mais constante e que engrena logo do começo, apresentando ao longo de seus 11 minutos ótimos arranjos que resultam em uma música de primeira.
No todo, A Tower of Silence é um bom álbum de uma banda com potencial. Olho nos caras.
Inté!
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19 de nov. de 2011
Melhores de 2011: Liam Davison - A Treasure of Well-Set Jewels
Em junho passado, escrevi a dica sobre o EP de estreia da carreira solo de Heather Findlay, ex-vocalista do Mostly Autumn. Naquela época elogiei a moça, já que a fórmula de sua banda de origem estava desgastada há tempos e o EP se mostrou renovado.
Pouco tempo depois, soube que Liam Davison, outro integrante da banda, também tinha lançado seu primeiro disco solo, desta vez um LP completo. Apesar de ser um dos fundadores do grupo, o guitarrista nunca teve grande destaque e sempre foi um cara discreto, sendo na maior parte do tempo um músico de apoio, pelo menos em minha percepção.
O guitarrista chegou a sair do grupo em 2006 e tinha como projeto gravar A Treasure of Well-Set Jewels, que não foi concluído. Ele voltou ao Mostly Autumn em 2009, e seu trabalho solo acabou sendo lançado somente neste ano. Contando com seus colegas de banda Iain Jennings (teclados) e Gavin Griffiths (bateria), além da própria Heather Findlay e da Anne-Marie Helder cantando em algumas faixas, o estilo do disco não difere muito de sua banda de origem, cuja principal influência é o Pink Floyd.
O que o torna este disco bem legal é o foco das composições. Enquanto os últimos discos do Mostly Autumn mostram uma banda que não sabe aonde quer chegar e acaba compondo faixas medianas com uso excessivo de solos cheios de efeitos e enjoativos do guitarrista Bryan Josh, Liam Davison optou por composições mais efetivas e equilibradas em ótimos arranjos. Há também bons solos de guitarra, mas sem grandes pirotecnias, na medida exata para os climas das músicas.
Todas as faixas do álbum são boas, com destaques para “Once in a Lifetime” (com a Heather Findlay nos vocais) e “Picture Postcard”. Dá pra dizer que este é o melhor disco do Mostly Autumn em muito tempo. Liam Davison está de parabéns pelo trabalho, inclusive por me ajudar a perceber sua importância nos primeiros discos da banda.
Até a próxima!
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13 de nov. de 2011
Melhores de 2011: Phideaux - Snowtorch
Lá em 2009, quando este blog dava seus primeiros passos, indiquei o disco do Number 7 da banda Phideaux como um dos melhores daquele ano. Você pode conferir um pouco da história da banda e minha opinião sobre o disco neste link.
Naquela dica, comentei também que a parte final de uma trilogia, chamada de Number 7 ½, tinha sido adiada para que Number 7 fosse lançado, e que era aguardado o lançamento da tal parte final em curto período de tempo. Pelo jeito, a banda mudou seus planos, e ao invés de lançá-lo, reapareceu no começo de 2011 com o álbum Snowtorch. Mais uma vez, a banda alcançou bons resultados.
O novo trabalho apresenta algumas mudanças de estilo na comparação com seu antecessor: primeiro, o disco enfatiza o som mais psicodélico que lembra o Pink Floyd, deixando um pouco de lado as demais influências apresentadas em Number 7, a não ser por um ou outro trecho mais sinfônico; segunda (e esta mais importante), o álbum apresenta um formato diferente, contando com apenas quatro faixas sendo duas longas e duas curtas.
Como já comentei algumas vezes por aqui, considero que a dificuldade de compor uma música é (entre outros aspectos) diretamente proporcional à sua duração, dado que manter o pique e o interesse do ouvinte por muito tempo parece-me um baita desafio. Pois bem, em “Snowtorch (Part I)”, uma das longas faixas que abre o álbum, a banda foi muito bem sucedida nesse quesito. Cheia de variações e um longo trecho instrumental com partes sinfônicas, a faixa não enjoa nunca e o resultado final é excelente.
A outra faixa longa, “Snowtorch (Part II)”, também atinge bons resultados apresentando arranjos diferentes e por vezes mais modernos às linhas vocais da primeira parte. Embora o truque seja feito com competência e apresente uma progressão bastante efetiva em seu final, o resultado final não é tão impactante quanto na faixa de abertura. Sobre as faixas mais curtas, “Helix” apresenta o mesmo estilo mais psicodélico dos álbuns anteriores, enquanto “Coronal Mass” também apresenta arranjos diferentes para a melodia instrumental que se repete ao longo do disco, desta vez com maior influência sinfônica.
No todo, Snowtorch é mais um grande álbum de uma das melhores bandas de rock progressivo da atualidade. Talvez seu antecessor seja (muito pouco) melhor, mas isto não tira o brilho do novo trabalho.
Abraços!
5 de nov. de 2011
Lista de melhores de 2011
Oi, pessoal,
Assim como no ano passado, criei uma nova categoria para facilitar a pesquisa das dicas referentes aos melhores de 2011, inaugurada por este post.
Apesar de já estarmos em novembro, ainda estou montando a lista para publicar os comentários aqui no blog. A demora acontece por dois motivos: primeiro, a falta de tempo, que se explica por si só; segundo, confesso que estava desanimado com a média dos discos lançados neste ano, salvo uma ou outra exceção. Os oito primeiros meses do ano contaram com lançamentos de bandas importantes sobre os quais eu tinha algumas expectativas, quase sempre não atingidas.
Parece que muitas bandas resolveram lançar novos discos no final do ano, mas ainda não consegui ouvir tudo. Do que ouvi até agora, a média destes últimos lançamentos tem sido melhor, o que embaralhou a lista que eu já tinha montada. De qualquer forma, já tenho alguns textos quase prontos sobre discos que devem se manter na lista e em breve começo a publicá-los, ok?
Abraços,
Sergio
30 de out. de 2011
Dica do Xaxim: Faces - A Nod Is As Good As a Wink... to a Blind Horse (1971)
Semana passada estava conversando sobre a banda Free, que indiquei recentemente a meu amigo João Affonso, também fã de progressivo e de rock em geral. Durante o papo, ele me comentou que estava ouvindo o álbum A Nod Is As Good As a Wink... da banda Faces.
Acho que estou ficando velho, porque quando ele me recomendou o disco, que não tem um título comum, eu achei que já o tinha ouvido antes. Olhei minhas anotações (eu mantenho um catálogo com notas para todos os discos que ouço) e constatei que já tinha dado uma nota alta para o álbum, que, sabe-se lá porque, caiu no esquecimento por mais de três anos. Resolvi então revisitá-lo e redescobri um belo trabalho, digno de uma dica aqui no blog.
Segue um pouco de contexto histórico: a banda foi formada em 1969 e sucedeu ao Small Faces, que por sua vez contava com o vocalista Steve Marriot, que foi formar o Humble Pie. Os membros remanescentes então encurtaram o nome da banda e trouxeram para a formação dois caras que tocavam com o Jeff Beck, o vocalista Rod Stewart e o guitarrista Ron Wood, que mais tarde se tornariam mais famosos em carreira solo e no Rolling Stones, respectivamente.
A Nod Is As Good As a Wink... é o terceiro disco da banda, e é muito bom. Apresentando um rock básico de muita qualidade, com uma ou outra pitada de hard rock e outras mais frequentes de blues, o álbum tem nove faixas que satisfazem qualquer fã do gênero, alternando momentos mais agitados com outros um pouco mais calmos. A maioria delas tem como destaque o bom Rod Stewart com sua voz rouca que casa perfeitamente com os estilos citados, e quem conhece apenas sua carreira solo e pensa que ele é um cantor pop não imagina do que ele é capaz, mesmo sem recorrer a grandes firulas.
Os momentos mais agitados são os que mais me agradam, e dentre eles destaco a ótima faixa de abertura “Miss Judy’s Farm”, além de “Stay With Me” e “That’s All You Need”, que encerra um álbum que é mais um exemplo de que há muita coisa bem legal pra se ouvir de bandas do chamado segundo escalão.
Inté!
23 de out. de 2011
Dica do Xaxim: Heather Nova - 300 Days at Sea (2011)
Há muito não arrumo um tempo para escrever, mais uma vez devido ao dia a dia cada vez mais agitado. Para não passar este mês em branco aqui no blog, resolvi indicar um disco com som mais básico e agradável de ouvir enquanto vou decidindo a lista de melhores do ano.
Heather Nova é uma cantora nascida em Bermuda, que já atingiu certa fama no mundo pop nas décadas de 1990 e 2000. Gosto de vários discos da moça, em especial do bom Redbird, de 2005. Ela andava sumida desde o lançamento de The Jasmine Flower, de 2008, e retornou em grande forma neste ano com 300 Days at Sea.
Dona de uma voz bacana e afinada, além de ótima intérprete, a artista varia suas composições entre o rock/pop básico e baladas folk feitas para a rádio. Em relação aos trabalhos anteriores, o novo disco dá um pouco mais de ênfase ao primeiro estilo, com resultados bem legais. Dentre as músicas neste estilo, destacam-se “Higher Ground” e “Turn the Compass Round” (esta a melhor faixa do disco).
Os momentos mais lentos do disco também se mostram inspirados e de vez em quando apresentam orquestrações simples e bem arranjadas, destacando a voz da cantora. Os melhores momentos neste estilo são “The Good Ship ‘Moon’” e “Burning to Love”, que tem um pé no blues.
O disco também apresenta uma ou outra canção mais elaborada, como em “I’d Rather Be” ou na ótima “Do Something that Scares You”, que alterna momentos climáticos com efeitos sonoros mais distorcidos, sempre com uma melodia vocal diferente, quase falada.
300 Days at Sea não tem faixas ruins e se mostra bem estruturado, o que é resultado da maturidade e competência da cantora / compositora. Trata-se de uma ótima opção para curtir um som mais básico, mas ainda assim de qualidade.
Até a próxima!
17 de set. de 2011
Dica do Xaxim: The Who - Odds & Sods (1974)
Resolvi escrever sobre mais um exemplo de bom disco que não é apreciado por mais gente porque não aparece entre os principais trabalhos da banda e/ou porque não apresenta proposta inovadora. Neste caso, falarei sobre a sensacional banda The Who.
Odds & Sods de fato não é tão bom quanto seus antecessores, o seminal Who’s Next e o muito bom Quadrophenia. Isto não quer dizer que Odds & Sods seja ruim; ao contrário, o disco apresenta em sua maior parte boas faixas, que talvez fossem mais apreciadas se gravadas por bandas menos famosas.
Após gravar uma série de álbuns conceituais, a banda optou neste disco por lançar um trabalho mais básico e voltado a canções psicodélicas típicas do rock britânico da época, estilo que ela mesma ajudou a criar e foi uma das principais expoentes. Há faixas que remetem à também ótima primeira fase da banda, dentre as quais “Faith in Something Bigger” se destaca.
Não é o caso de um retrocesso. Há também espaço para estruturas mais pesadas intercaladas com ótimas melodias vocais (cortesia do grande Pete Townshend) que lembram a segunda fase da banda, mas com duas diferenças: primeira, tais estruturas se tornaram mais básicas; e segunda, a banda dá mais ênfase ao piano do que a sintetizadores, indo na contramão da tendência da época. Neste estilo, as faixas que mais curto são “Naked Eye” e “Long Live Rock”.
No todo, Odds & Sods é um álbum de transição, que inaugura a terceira e derradeira fase da banda e que realmente não atingiu os mesmos resultados das duas anteriores. Ainda assim, esta fase apresentou grandes músicas também conhecidas por muita gente, o que não é diferente neste disco.
Até!
4 de set. de 2011
Dica do Xaxim: Quidam - The Time Beneath the Sky (2002)
Fiquei um tempo pensando sobre qual seria minha próxima dica e por isso resolvi revisitar alguns discos. Entretanto, a maioria dos que considero bons o bastante para figurar neste espaço são de bandas sobre as quais já falei e eu queria apresentar uma banda diferente.
Hoje estive ouvindo o terceiro álbum da banda polonesa Quidam e me pareceu que seria uma boa dica. O som dos caras é rotulado como neo prog, mas em minha opinião não se restringe a isso. Há claras influências sinfônicas e de world music, como na faixa que abre o disco, “Letter from the Desert”, predominantemente instrumental com fortes tons de música típica do Oriente Médio.
Não se trata de uma sacada original. Pouco menos de dez anos antes, Jimmy Page e Robert Plant apresentaram uma ótima releitura de “Kashmir” que usava a mesma fórmula. Pois a banda polonesa parece ciente disso e apresentou neste álbum uma releitura bem climática da faixa “No Quarter” que ficou excelente, com efetivo uso de flauta e órgão, além do brilho da vocalista Emilia Derkowska, que é uma cantora acima da média.
O disco também apresenta faixas menos complexas com forte apelo pop, como por exemplo em “New World”, que tem bons arranjos e que poderia fazer sucesso nas rádios não fossem as letras em polonês (apesar do título em inglês). Entretanto, a banda atinge os melhores resultados em “Credo I” e “Credo II”, que além do apelo pop apresentam variações em passagens climáticas (novamente com bom uso da flauta e ótimo desempenho da vocalista), além de algumas polifonias vocais que lembram o Yes e de um trecho instrumental mais puxado para o rock progressivo e que ficou bem legal.
No todo, The Time Beneath the Sky mostra uma banda madura, que sabe o que quer fazer e que não tem medo de rótulos. É uma pena que depois deste disco a banda sofreu uma grande mudança em sua formação, incluindo a vocalista, que era o grande destaque do grupo. Embora os discos seguintes não sejam ruins, é em seu terceiro trabalho que esta boa banda atingiu seu ápice.
Até!
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13 de ago. de 2011
Homenagem
Oi, pessoal,
Peço desculpas pelo sumiço. Tenho lidado com alguns eventos extraordinários, uns bons e outros nem tanto, que têm consumido bastante do meu tempo. Mas o principal evento ocorreu há mais ou menos um mês e deixou o blog de luto.
Estive em férias durante o mês passado e viajei para Maceió com minha família logo na primeira semana. Quando voltei, pensei em ligar para meu amigo Philipe Vaver, a quem não via há muito tempo. O Philipe e eu nos conhecemos há quase 23 anos, quando começamos juntos numa turma de moleques que participou de um treinamento para formação de profissionais.
Como também estudávamos na mesma escola, embora ele fosse um ano mais velho que eu, começamos a ir juntos do trabalho para o colégio, quando descobrimos que tínhamos no rock um gosto em comum. Tornamo-nos muito amigos, saímos muitas vezes juntos (numa dessas saídas eu conheci minha esposa), inventamos várias tiradas. Ele frequentou minha casa e eu a dele, e sempre nos dispúnhamos a ouvir música e a apresentar um ao outro nossas descobertas.
Foi o Philipe quem me apresentou o Queen, que com o passar do tempo se tornou uma de minhas bandas favoritas. Ele sempre foi mais eclético que eu, mais antenado com a cultura presente e passada. Também sempre foi mais inteligente, boa praça, sossegado, e por conta de tudo isso acabou se mudando para um lugar mais tranquilo. Acabamos perdendo o contato, mas eu sempre senti sua falta. Víamo-nos ocasionalmente, quando botávamos o papo em dia em encontros sempre memoráveis.
Há coisa de alguns poucos meses ele me achou no Facebook. Tinha voltado pra cá, retomamos o contato e combinamos de marcar uma saída. Foi com grande expectativa, então, que liguei para ele quando voltei de viagem. Conversamos e rimos juntos; ele me comentou que tinha lido este blog e e eu disse que tinha escrito recentemente uma dica sobre o Queen II, “um disquinho mais ou menos”; coincidimos (mais uma vez) quando descobrimos que ambos não tínhamos carro próprio. Marcamos um encontro para dali a três dias, mas um dia antes de vê-lo recebi a terrível notícia de que ele faleceu dormindo naquela mesma noite em que nos falamos por telefone.
Confesso que a notícia me deixou arrasado. Fiquei pensando muitas vezes por que raios não achei um tempo para me encontrar com ele nestes últimos meses, mas depois me dei conta de que, mesmo que tivéssemos nos encontrado, minha tristeza com sua partida definitiva seria a mesma. Desde que ele se foi, não senti vontade de escrever sobre música ou sobre qualquer outra coisa; só agora a dor passou um pouco e resolvi escrever sobre meu grande amigo.
Assim, este post é uma homenagem a uma das pessoas mais bacanas que já conheci. Embora ele não possa ratificar ou retificar minha opinião, sinto que ainda temos uma afinidade muito grande e rara, mesmo sem contato. Gosto de pensar que mais uma vez meu grande amigo partiu para um lugar mais tranquilo; ele deve estar curtindo muito Queen e outras coisas boas lá em cima.
Obrigado por tudo, cara!
13 de jul. de 2011
Dica do Xaxim: Echolyn - Mei (2002)
Existem poucos discos que considero obras-primas ou quase perfeitos. Como meu gosto musical não é tão eclético quanto eu gostaria (mesmo que conforme o tempo passe meus preconceitos venham se tornando cada vez menores), a grande maioria entre minha pequena relação de discos quase perfeitos pertence a álbuns gravados por bandas inglesas durante a década de 70, período que considero como o auge da música em geral.
Queen II, minha dica anterior, é um desses poucos álbuns e que não é lá muito reconhecido (ou pelo menos não como eu acho que deveria ser). Escrever sobre meus “discos de cabeceira” que todo mundo conhece me parece chover no molhado e não pretendo aqui discorrer sobre os mesmos, exceto por um álbum que pouca gente conhece. Este disco não foi gravado na década de 70 e também não é obra de uma banda inglesa; trata-se do sensacional Mei, da banda americana Echolyn.
O grupo surgiu no começo da década de 90, quando gravou um ótimo álbum homônimo de estreia com tons modernos e influências de Gentle Giant. O segundo álbum, Suffocating the Bloom, que também é bom, chamou a atenção de uma grande gravadora (Sony Music) através da qual lançaram o terceiro álbum, As the World, em 1995. Ao invés de ceder às pressões da gravadora por um som mais acessível, os caras lançaram um álbum com som ainda mais complexo, o que levou ao término do contrato e ao fim da banda.
Cinco anos depois, eles retornaram de forma independente com o bom álbum Cowboy Poems Free, em que nitidamente puderam se expressar da forma como queriam gravando ótimas músicas que variavam entre tons climáticos e verdadeiras pauladas na moringa, sempre com tons modernos mesclados com passagens mais complexas. Apesar do ótimo resultado, foi no disco seguinte que eles tomaram o passo mais ousado e lançaram um disco conceitual com apenas uma música.
Mei é uma música difícil de ouvir, dada sua duração. É cada vez mais difícil nesta vida moderna arrumar 50 minutos para prestar atenção a uma única música sem ser interrompido, ainda mais se tratando de uma obra complexa, com muitas variações e repleta de detalhes que vão se revelando a cada audição. Mas o aspecto que mais me impressiona é outro: assim como é um verdadeiro desafio para o ouvinte curtir a obra, que dirá gravar uma peça tão longa e com tanta qualidade.
Apesar de ser fã de progressivo, no meu caso isto não acontece por causa das longas durações das músicas, coisa comum no gênero. Na verdade, acho que há certo exagero por parte de muitas bandas que privilegiam a duração de uma obra em detrimento da composição, resultando muitas vezes em passagens intermináveis e sem sentido. E é justamente isso que adoro em Mei: não há enrolação ou “enchimento de linguiça”. Há, sim, uma obra coesa, inspirada e que alterna momentos instrumentais e cantados, calmos e nervosos, simples e complexos, sinfônicos e roqueiros, tudo isso em várias combinações diferentes dosadas na medida certa e que não enjoam.
A obra trata de uma epopeia representada por uma montanha russa de sentimentos, que vão desde a tristeza pela separação entre pessoas que se gostam, passam tanto pela conformidade quanto pelo desespero causados por momentos de solidão (por vezes transformado em raiva generalizada) e terminam na calma certeza de que dias melhores virão. Todas estas passagens, que se alternam ao longo do disco, são interpretadas de forma soberba tanto do ponto de vista musical quanto vocal, representado pelo guitarrista Brett Kull nas passagens mais calmas e pelo vocalista Ray Weston (que neste disco assumiu também o baixo) nas passagens mais agressivas.
Outro ponto de destaque no disco é que não há muito espaço para grandes solos, embora eles ocorram em trechos curtos de vez em quando. Os arranjos enfatizam o trabalho em conjunto, coisa rara e difícil de fazer, ainda mais considerando uma obra tão longa. Com isso, todos os integrantes da banda aparecem bem e merecem destaque. Além dos já citados, o tecladista Chris Buzby manda muito bem com o uso de ótimos timbres (especialmente os de órgão), além do competente baterista Paul Ramsey, que aparece bem ao longo de todo o disco.
A banda faz uso de trechos e melodias que se repetem ao longo da música e que conferem coesão à obra, mas mesmo este truque, repetido com maestria pelas grandes bandas do gênero, é feito de forma discreta e (mais uma vez) sem espaço para exageros. O resultado de todas as características citadas faz com que Mei seja um disco surpreendente, que tem lá sua dose de originalidade e genialidade, brilhante. Para mim, é um disco obrigatório para qualquer coleção de rock.
Até!
24 de jun. de 2011
Dica do Xaxim: Queen - Queen II (1974)
Quase todo mundo que ouve Queen (o que não é pouca gente) conhece a capa de Queen II, mas a relaciona ao vídeo “Bohemian Rhapsody”, figurinha carimbada em todas as listas de melhores músicas de rock, que mostra uma imagem como esta ao lado na parte da "ópera".
Fato é que essa música pertence a outro disco, e nem todos que conhecem a música se dão ao trabalho de ouvir o álbum em que a mesma foi gravada. Com isso, as pessoas acabam não conhecendo músicas sensacionais como “The Prophet Song” (do mesmo disco da famosa faixa que a imagem remete), o que é uma pena.
Esse raciocínio se aplica a todo o segundo disco da banda, gravado em 1974. Isto em minha opinião acontece por três motivos: primeiro, porque apenas "Seven Seas of Rhye", faixa que encerra o álbum, consta nas inúmeras coletâneas já lançadas pela banda (*); segundo, porque conforme os anos se passaram, a banda deixou de tocar suas faixas ao vivo; e terceiro, porque o álbum não tem o mesmo apelo comercial dos mais famosos da banda.
Não ter o mesmo apelo comercial não quer dizer que o disco seja ruim. Se você estiver se perguntando se o estilo da banda em seu início era diferente dos álbuns mais conhecidos que vieram depois, acho que a resposta é a seguinte: sim, a banda em seu início dava mais ênfase ao seu lado hard rock que flertava com o progressivo, com resultados por vezes meio malucos. Mas as características que tornaram a banda famosa já se apresentavam e é por isso que entendo que ignorar estes álbuns é um baita desperdício.
Vou além: o segundo disco da banda está entre os melhores que eles gravaram, se não for o melhor. Para mim, é tão seminal quanto o muito mais conhecido A Night at the Opera, que contém a citada “Bohemian Rhapsody”. Trata-se de uma obra-prima, obrigatória para qualquer fã de rock e que também apresenta pérolas que podem agradar àqueles que conhecem apenas os maiores sucessos da banda.
Para começar, Queen II apresenta notável evolução com relação a seu álbum de estreia, gravado um ano antes. Mais seguro de si, o grupo apresenta composições mais efetivas divididas em duas metades bem definidas: o chamado “lado branco”, com todas as músicas compostas por Brian May (à exceção de “The Loser in the End”, uma paulada composta por Roger Taylor), e o chamado “lado negro”, com todas as composições assinadas pelo gênio de Freddie Mercury.
Essa distinção mais clara entre os estilos só faz enfatizar as ótimas qualidades diferentes dos dois principais compositores da banda, o que contribui para tornar o álbum ainda melhor. O lado branco tem lá suas variações, com composições que variam do hard rock de ótimos resultados (como a fantástica “Father to Son”) a baladas que tinham apelo comercial (como “White Queen (As It Began)”, que acaba dando nome ao lado A do LP original). Nesta metade, os talentos de Brian May são mostrados em sua plenitude e abrilhantados pelas magníficas interpretações de Freddie Mercury, que já era um cantor excepcional.
A segunda metade também apresenta variações, do hard rock (um pouco mais pesado) a baladas com apelo comercial. Apresenta também um lado mais maluco, típico do vocalista, que neste disco se afirmou como o grande compositor que depois escreveu muitas das músicas mais famosas da banda. Todas as músicas são ótimas, mas “The March of the Black Queen”, que dá nome ao lado negro, é daquelas maluquices deliciosas, com uma interpretação soberba abrilhantada pelo magnífico trabalho de Brian May na guitarra.
Queen II é um álbum completo de uma banda de enorme talento, que depois atingiu o merecido estrelato. Trata-se de um disco que não pode ser ignorado, mas sim cultuado, porque apresenta variedade de estilos executados com enorme competência. É um dos meus discos de cabeceira. Se você ainda não conhece, corra e ouça.
Até!
(*) Meu texto original afirmava que nenhuma faixa do álbum constava nas várias coletâneas existentes, informação esta corrigida pelo amigo "Sempre Alerta" André nos comentários. Valeu pela correção!
11 de jun. de 2011
Dica do Xaxim: Heather Findlay - The Phoenix Suite [EP] (2011)
Heather Findlay é uma cantora conhecida dos fãs de rock progressivo por ter feito parte da banda inglesa Mostly Autumn, que atingiu certo sucesso com bons discos lançados desde o fim da década de 90 até a metade da passada, e depois deixou a peteca cair.
Após deixar a banda há não muito tempo, o que foi um choque pra muita gente, ela lançou um EP solo neste ano. Apesar de não ter uma voz de grande destaque, ela é uma intérprete competente e afinada, além de responsável por algumas das melhores composições de sua banda de origem, caracterizada por mesclar folk e rock progressivo com timbres modernos.
Foi por isso que fiquei curioso quando soube do lançamento do novo EP, que se mostrou uma agradável surpresa. Ao invés de repetir a fórmula já bastante desgastada de sua banda anterior (o que fez com que a mesma fosse perdendo sua popularidade gradativamente), a vocalista optou por um rock/pop direto, sem grandes firulas, mas muito competente.
Composto por cinco faixas que totalizam pouco mais de vinte minutos de duração, o mini-álbum é bem legal de ouvir, e não tem nada de progressivo nem de folk. Todas as músicas apresentam o mesmo estilo, ora em ritmos mais agitados, ora em ritmos mais calmos, e chama a atenção que a cantora adota de forma apropriada um estilo de interpretação diferente do que sempre a caracterizou, menos suave e mais marcante, na medida certa que cada música pede.
Das cinco músicas, minhas preferidas são as duas últimas, “Seven” e “Mona Lisa”. Espero que ela lance um álbum inteiro logo. Se ela mantiver este pique e a inspiração que parece ter voltado, certamente será um disco acima da média.
Até!
5 de jun. de 2011
Dica do Xaxim: Caravan - Cunning Stunts (1975)
Algumas bandas reconhecidas do movimento progressivo têm uma fase marcada como sendo a principal, mas seus discos subsequentes são ignorados por muita gente, mesmo se tratando de bons álbuns. É o caso de Cunning Stunts, do Caravan.
O texto em inglês a seguir foi retirado da página da banda no Progarchives, talvez o site com maior número de informações sobre o rock progressivo. "Cunning Stunts" (1975) marked the beginning of a series of mediocre releases and lineup changes, eventually leading to the reunion of the original members on "Back to Front".
O disco sucedeu o aclamado For Girls Who Grow Plump in the Night, gravado dois anos antes, e realmente não é tão bom quanto seu antecessor, mas tá longe de ser medíocre. O álbum dá mais ênfase ao lado “soft jazz” que a banda sempre apresentou e deixa o rock progressivo irreverente e viajante um pouco de lado, mas este não desaparece por completo. Pra mim, este é o motivo pelo qual muita gente torce o nariz para este álbum, o que não lhe faz justiça.
Mais que isso, os teclados e o violino continuam dando as caras, mas este último de forma mais comedida. A primeira faixa, “The Show of Our Lives”, é uma delícia de ouvir, com sua melodia suave num rock bem comportado arranjado com muito bom gosto. Além dela, também curto “Stuck in a Hole”, um rock também comportado (mas nem tanto) e “Welcome the Day”, outro exemplo de composição bem construída.
Mas o grande destaque do disco é a última música, “The Dabsong Conshirtoe”, em que a banda apresenta em toda sua plenitude as características que os fizeram únicos (e famosos) nos discos anteriores. Contando com 18 minutos e muitas variações em seus primeiros treze, a música vai do rock irreverente a progressões sinfônicas misturadas com o tal soft jazz, coisa que a banda sabia fazer com maestria. No final, o trecho de cinco minutos com um riff de guitarra bem roqueiro, simples e eficiente faz a base para vários instrumentos e ruídos serem adicionados alternadamente numa viagem que não deve nada aos principais sucessos do grupo.
Só esse musicaço já vale o disco. Se você já conhece a banda mas nunca o ouviu porque o mesmo não tem muitos comentários positivos, acho que pode estar perdendo um bom álbum.
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21 de mai. de 2011
Dica do Xaxim: Astor Piazzolla - Homenaje... Adiós Nonino y Sus Temas Más Recordados (1992)
Quando criei o Rock do Xaxim, declarei que gostaria de um espaço livre de regras e sem compromissos, seja de estilo musical, seja de frequência de novos textos. Faz um mês que não posto nada, mas hoje me lembrei de uma obra-prima que merece destaque, e claro, uma dica.
Eu gosto muito do gênero criado na Argentina por dois motivos: ao mesmo tempo em que é um gênero essencialmente popular, nota-se em várias canções o esmero nos arranjos característicos da música clássica que servem de fundo à música; segundo, porque o gênero é quase sempre acompanhado de um casal dançando e acompanhando as variações da música, coisa difícil de fazer num estilo em que o ritmo não é constante.
O tango para a Argentina tem uma importância similar ao samba para o Brasil, guardadas as devidas proporções (o primeiro tem mais ênfase nas melodias, enquanto o segundo enfatiza o ritmo). Há também por lá rádios exclusivas para o gênero, e as pessoas mais velhas o cultuam. Tanto lá como cá, alguns dos expoentes do estilo são venerados, como, por exemplo, Carlos Gardel, que é considerado o ícone do gênero até hoje.
Esta dica, entretanto, recomenda o mais controverso dos compositores do gênero. Fato é que Astor Piazzolla, um cracaço do bandoneon, foi um cara ousado e muito à frente do seu tempo. Assim como alguns músicos resolveram fundir jazz e rock criando o fusion, Piazzolla fundiu jazz e tango, criando uma combinação única em arranjos soberbos. Os mais tradicionalistas torcem o nariz para as músicas que ele criou, mas não negam sua genialidade.
Dado que é um gênero único e não muito conhecido por aqui, resolvi recomendar a coletânea Homenaje, que contém muitas de suas composições memoráveis, como “Contra Milonga a la Funerala” e “Adiós Nonino”. Aliás, esta última é uma baita resposta àqueles que dizem que Astor Piazzolla deturpou o tango; trata-se de uma obra-prima que resume o gênero de forma absolutamente genial pra qual ninguém torce o nariz e que é simplesmente uma das mais belas canções instrumentais que já ouvi.
21 de abr. de 2011
Dica do Xaxim: Gazpacho - Night (2007)
Na década passada, algumas bandas de progressivo começaram a absorver o som melancólico de bandas da década anterior (entre as quais a maior influência talvez seja o Radiohead) e passaram a apresentar um estilo com escalas em tons menores que vão em direção contrária ao tradicional rock sinfônico, que enfatiza progressões em tons maiores quase sempre em direção ao clímax musical de forma sublime.
Com o acesso às novidades facilitado por mídias especializadas e pela internet, este estilo mais melancólico ganhou força fazendo uso de um círculo virtuoso. Enquanto novas bandas mostravam essas novas tendências, outras bandas já estabelecidas passaram a fazer uso dessas influências em tentativas de mudar seu som, o que por sua vez influenciou novas bandas ou mesmo aquelas que lançaram a tendência.
Dentre as bandas já estabelecidas que incorporaram essas tendências ao seu som, o Marillion me parece o exemplo mais evidente. Das novas bandas que mostraram essa tendência desde cedo e a aprimoraram através do círculo virtuoso, a banda norueguesa Gazpacho é em minha opinião a que atingiu melhores resultados, e Night, o quinto disco da banda gravado em 2007, é o melhor trabalho dos caras.
O álbum é composto de cinco faixas, sendo que a menor delas conta com quase sete minutos de duração. Não se trata de um disco fácil de ouvir. Ao contrário, as faixas parecem insistir no uso do tom melancólico ressaltado pelos bons vocais de Jan Henrik Ohme. O que impressiona no disco é que os caras utilizam esse expediente de forma sempre equilibrada, que não cansa: as faixas contem lá suas progressões em direção ao clímax musical, mas este expediente não é o objetivo principal; ao contrário, as regressões apresentadas de forma frequente e insistente são partes igualmente importantes das músicas.
Mais que isso, os arranjos apresentados ao longo das faixas são muito bem pensados e fazem sentido no conjunto da obra. Não espere ouvir neste disco solos virtuosos, porque não há. Há, sim, espaço para passagens instrumentais climáticas, viajantes, que não chegam perto dos vários ótimos grupos de rock mais famosos. A questão aqui é que a intenção dos caras não é apresentar virtuosismo, mas sim apresentar arranjos que fazem o ouvinte viajar. E isso os caras fazem com enorme competência.
Este é um daqueles álbuns surpreendentes, que apresentam arranjos ousados e de bom gosto que fazem a gente viajar. Pra citar um exemplo mais concreto, é um álbum que mostra mais o começo pacífico de “Soon” do que a guerra intensa da maior parte de “Gates of Delirium”. É daqueles discos pra se ouvir com as luzes apagadas e curtir cada instante de sua viagem. Em resumo, um discaço!
16 de abr. de 2011
Dica do Xaxim: Locanda delle Fate - Forse le Lucciole non si Amano Più (1977)
O Rock Progressivo Italiano é um movimento pra lá de reconhecido. Durante a década de 70, os caras da terra da bota deram a impressão de se lembrarem do período da Renascença e mandaram ver no rock progressivo. Várias bandas de lá lançaram ótimos discos do gênero, claramente influenciados pelo rock progressivo vindo da Inglaterra, mas com um charme especial latino que acabou criando um subgênero exclusivo para designar a origem do som.
Dentre os vários ótimos discos do tal subgênero, um deles se destaca por três motivos. Primeiro, porque Forse le Lucciole non si Amano Più, da banda piemontesa Locanda delle Fate, é um álbum tardio, lançado em 1977, quando o rock progressivo começava a perder força para o movimento punk. Segundo, por ser o álbum de estreia da banda (e infelizmente o único do período). Terceiro (e principal), porque o álbum contém arranjos sublimes em todas suas faixas.
Contando com apenas uma ótima faixa instrumental, o disco apresenta letras em italiano bem cantadas pelo vocalista Leonardo Sasso, sempre com um estilo sinfônico cheio de progressões. A qualidade das composições, entretanto, faz com que o álbum não soe repetitivo; ao contrário, apesar de apresentar o mesmo estilo, as faixas vão se sucedendo e deixando o ouvinte querendo mais.
Além do vocalista, todos os músicos eram muito competentes. Uma das coisas que chama a atenção na banda é o fato de contarem com dois guitarristas e dois tecladistas, o que não é comum, mas demonstra que os arranjos foram muito ensaiados. Mais do que isso, nota-se claramente o que cada integrante está tocando, sem que o som saia embolado, o que é um feito para a época em que o álbum foi lançado.
É muito difícil escolher uma música que se destaque, o que mostra que o disco é uma obra-prima, que é devidamente reconhecida por quem já ouve o rock progressivo da Itália, mas que não é muito conhecida por quem aprecia as principais bandas inglesas do gênero e se restringem ao PFM ou ao Banco. O único disco do Locanda delle Fate é uma joia rara, obrigatória para quem curte o progressivo tradicional da década de 70.
20 de mar. de 2011
Melhores de 2010: La Maschera di Cera - Petali di Fuoco
Fabio Zuffanti é um dos maiores expoentes do cenário progressivo italiano. Prolífico e talentoso, o baixista já lançou discos em carreira solo, em dupla ou em projetos paralelos. Cada um desses discos tem um estilo diferente, com resultados diversos. Liderando sua banda de origem, La Maschera di Cera, com som mais voltado para o rock sinfônico, o resultado é sempre bom.
Com tanto trabalho, depois de quatro anos surgiu Petali di Fuoco, o quarto disco da banda. E a espera valeu: o disco apresenta oito músicas em estrutura mais simples, com a maioria delas variando entre cinco e sete minutos. Nem por isso o disco deixa de ser tão progressivo quanto os anteriores; de fato, faixas curtas não são muito comuns em discos do gênero, mas a banda manteve a pegada e conseguiu resolver bem cada música do ponto de vista individual.
Além do baixista, que é muito competente, destaco também os vocais de Alessandro Corvaglia, que tem voz acima da média e um timbre característico do rock progressivo italiano, com interpretações que “transpiram” emoção. Não há uma única faixa ruim no disco, mas minhas preferidas são “Fino All’aurora”, “L’inganno” e “Phoenix”.
Alguns fãs do gênero poderão sentir falta das estruturas mais convencionais e de obras individuais com mais variações. De minha parte, entendo que a banda tomou um passo ousado e apresentou um belo disco de progressivo, variando estilos de música para música, sempre com muita qualidade, o que é o principal. Para mim, um dos melhores discos do ano passado e que encerra a lista de melhores de 2010.
Até a próxima!
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12 de mar. de 2011
Dica do Xaxim: Argent - Nexus (1974)
A banda Argent é outro exemplo de formação inglesa mais ou menos conhecida por quem curte progressivo. Neste caso, entretanto, a banda lançou bons discos que não se restringem ao gênero, e por isso entendo que poderiam ser apreciados por um público maior.
Formada em 1969 pelo tecladista Rod Argent, a banda nunca se caracterizou por apresentar novidades musicais, mas sim por certo ecletismo executado com competência. Além do tecladista, a banda contava em seu auge com o vocalista e guitarrista Russ Ballard, o baterista Bob Henrit e o baixista Jim Rodford.
Nexus, o quinto disco e último de estúdio com essa formação, é bem agradável de ouvir. A banda segue a receita de misturar vários gêneros do rock, mas o que mais se destaca é o chamado art rock (que lembra um pouco o estilo do Queen), com pitadas de hard rock, progressivo e algo de fusion e blues. Neste sentido, se destacam as faixas “Music from the Spheres” e “Gonna Meet My Maker”.
Assim como na dica anterior em que falei sobre o Greenslade, Nexus é daqueles bons discos que servem de alternativa para quem está um pouco cansado de ouvir sempre as mesmas coisas.
Até!
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8 de mar. de 2011
Dica do Xaxim: Greenslade - Bedside Manners Are Extra (1973)
A banda Greenslade, formada pelo tecladista Dave Greenslade (ex-Colosseum), é daquelas que quem curte muito o progressivo conhece, mas não atingiu grande sucesso. É de fato uma banda pouco comentada e que merece uma Dica do Xaxim.
Bedside Manners Are Extra, lançado em 1973, é o segundo disco da banda, e em minha opinião o melhor deles. É daqueles discos que agradam não porque contêm obras-primas (embora a instrumental “Chalkhill” seja um musicaço), mas porque têm boas músicas do início ao fim. Os trechos instrumentais são os melhores, com forte ênfase em teclados, com destaque para o ótimo Mellotron.
As músicas apresentam estilos bem variados, com climas mais agitados ou mais calmos, mas sempre agradáveis. De vez em quando se apresentam influências psicodélicas em doses corretas e vez por outra se percebe uma pitada de jazz ou de blues, o que torna o disco ainda mais interessante.
Mas o que chama mesmo a atenção é que toda a banda se mostra competente, com espaço até para um bom solo da bateria de Andy McCulloch na ótima “Drum Folk”, que por sua vez é seguido com grande solo de teclado, daqueles muito inspirados que por si só valem o disco.
Se você está cansado de ouvir sempre os mesmos discos de rock progressivo da década de 70, eis um disco diferente, agradável, e que pode servir como opção para variar um pouco.
Até!
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19 de fev. de 2011
Dica do Xaxim: Marillion - Seasons End (1989)
Faz tempo que não escrevo sobre um bom álbum não muito reconhecido de uma banda mais famosa, e certamente Seasons End, o primeiro do Marillion com Steve Hogarth nos vocais, se encaixa nessa categoria. Mais do que isso, me atrevo a dizer que este disco chega a ser injustiçado apenas porque não conta com o vocalista original.
Depois da conturbada separação entre o vocalista Fish e a banda, que juntos lançaram quatro bons ou ótimos discos e foram responsáveis por manter mais ou menos vivo o rock progressivo nos anos 80, os membros remanescentes buscaram um substituto que não lembrasse o antecessor, e acabaram encontrando o parceiro ideal no vocalista e tecladista que antes passou pelas bandas Europeans e How We Live.
Seasons End mantém muito do som tradicional da banda, embora traga algumas novidades. A primeira é a presença do novo vocalista. Embora não seja tecnicamente genial, assim como Fish tampouco o é, Steve Hogarth transpira emoção em todas suas interpretações, e em minha opinião só não é tão reconhecido quanto seu antecessor porque não se maquia e não apresenta atitude tão influenciada por Peter Gabriel.
A segunda novidade se apresenta em alguns momentos em que a banda se aproxima do pop, mais evidente em “Hooks in You”, que fez certo sucesso nas rádios e em “Berlin”, que soa como se o U2 em seu auge encontrasse o progressivo, nesse caso atingindo ótimos resultados. Esta mudança ficaria mais evidente em seus discos seguintes, embora a banda nunca tenha deixado sua veia progressiva morrer.
Por fim, a última novidade se nota nas letras. A primeira fase contou com letras muito inteligentes, que criticavam vários aspectos sociais e individuais da vida moderna, mas com tendências depressivas. Nesta nova fase as letras assinadas por John Helmer e pelo novo vocalista continuam inteligentes, mas se apresentam de forma mais elegante e com um tom mais positivo. As letras de “Easter” e “The Space” são daquelas que estapeiam o ouvinte chamando a atenção para aspectos simples mas sempre esquecidos da vida, e que dão margem a várias interpretações.
No todo, Seasons End é um daqueles grandes álbuns em que todas as músicas são boas, por vezes brilhantes, contando com ótimas melodias instrumentais e vocais. Embora toda a banda se apresente bem, o guitarrista Steve Rothery se destaca. Mais do que isso, naquela época ele estava em seu auge, motivo mais que suficiente para ouvir este dicaço!
Inté!
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12 de fev. de 2011
Dica do Xaxim: The Third Ending - The Third Ending (2006)
Estive revisitando o ótimo disco de estreia (e por enquanto o único) da banda australiana The Third Ending, e me lembrei de que em 2007 escrevi uma resenha sobre o disco no site ProgBrasil, cujo link pode ser encontrado na seção de bons sites do lado direito da página.
Como minhas opiniões sobre o álbum continuam essencialmente as mesmas e a banda ainda é pouco conhecida, o que se encaixa no perfil das Dicas do Xaxim, resolvi republicar o texto por aqui, em itálico e com uma ou outra edição. Como sempre, espero que vocês curtam mais esta dica!
A grande maioria das principais bandas que fizeram sucesso no mundo progressivo a partir do fim da década de 80 e início da década de 90 derivaram seus sons de outras bandas progressivas, adicionaram elementos não chamados de progressivos até então e criaram seu próprio som.
Citarei aqui três exemplos. O Dream Theater misturou o power metal do fim da década de 80 a composições longas e estruturas típicas do progressivo tradicional dos anos 70 com o uso de teclados, o que, aliado à extrema competência de seus músicos, fez com que a banda se tornasse o principal expoente do chamado prog-metal.
O Porcupine Tree se influenciou do prog psicodélico do Pink Floyd e o misturou com o som mais depressivo do Radiohead, o que, aliado a belas melodias vocais, a um som típico do metal moderno e à extrema competência de Steven Wilson e seus comparsas, fez com que a banda se transformasse no principal expoente do progressivo atual.
O Spock's Beard em vários momentos lembra as estruturas de bandas clássicas do progressivo dos anos 70 (Gentle Giant, Genesis e Yes me parecem as influências mais evidentes), misturando todas essas características numa banda única, o que, aliado a guitarras distorcidas típicas do grunge do início dos anos 90 e à extrema competência e carisma do Neal Morse, fez com que a banda se transformasse em uma das principais responsáveis por mais um renascimento do progressivo tradicional.
Não se pretende aqui incluir uma tese sobre o desenvolvimento do progressivo atual ou enaltecer as bandas citadas e outras que não foram citadas. O que se pretende demonstrar é o que está descrito no primeiro parágrafo, ou seja, que bandas são influenciadas por outras e que, se forem bastante competentes, acabam criando sua própria identidade.
De qualquer forma, você que lê esta humilde resenha deve estar se perguntando o motivo de eu citar estas três bandas que derivam de outras. Eu devolvo a pergunta: independentemente de concordar ou não com minhas opiniões, consegui despertar sua atenção ao citar estas três bandas? Se consegui, é provável que esta resenha seja de seu interesse.
The Third Ending, disco de estreia de mesmo nome da banda australiana (mais precisamente da Tasmânia), é um álbum que deriva de outras bandas. Mais especificamente, do som do Dream Theater, ao incluir alguns trechos de prog-metal (caso da ótima instrumental "Tungsten Blues" e de trechos da suíte final); do som do Porcupine Tree, ao incluir sons mais eletrônicos, progressões com belos solos e melodias mais depressivas (casos de "Eleven", "Back Home", "Can You Hear Me?" e de trechos da suíte final).
E do som do Spock's Beard, ao incluir órgão e belas melodias vocais que grudam na cabeça aliadas ao som de pianos e violões em arranjos muito bem pensados (caso de "Can You Hear Me?"); ao incluir uma suíte dividida em várias partes (caso da suíte final, cuja estrutura remete a "The Healing Colours of Sound", que vai de "Fingerprints" até "Fingerprints (reprise)", e que conta com um refrão revisitado em outro arranjo); isso sem falar nas ótimas melodias vocais e no timbre do vocalista Nick Storr.
O que chama muito a atenção no disco é que essas derivações são evidentes e mesmo assim o resultado final é excelente, assim como nos discos das bandas das quais o The Third Ending deriva. Isso acontece ao meu ver por um motivo quase óbvio: a banda mistura suas várias influências em uma mesma música, o que parece simples, mas raramente isso é executado com tamanha competência porque exige enorme esforço de composição para não se tornar meramente derivativo, e é isso o que confere à banda uma identidade própria, exatamente como feito anteriormente pelas grandes bandas que a influenciaram.
Não há uma única música neste disco que não seja no mínimo boa, e por isso é difícil encontrar destaques, o que é um ótimo sinal. Este álbum é daqueles que deixam o ouvinte viajando e querendo mais, o que é um enorme feito para um disco de estreia. Fica aqui a torcida para que esses caras mantenham esse nível nos discos seguintes, porque o primeiro já é um disco de gente grande e talentosa.
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30 de jan. de 2011
Dica do Xaxim: Pure Reason Revolution - The Dark Third (2006)
Quem é mais velho deve se lembrar do desenho “Josie e as Gatinhas”, que virou um filme meia-boca não faz muito tempo. O desenho, que era bem melhor, mostrava uma grupo musical composto por moças e seus amigos que viviam arrumando confusão. O mais legal do desenho é que as músicas da banda eram legais, com um rock que não era não tão básico e que mostrava boas melodias vocais.
Pure Reason Revolution é uma banda inglesa que faz um som moderno com fortes doses do chamado rock alternativo, mas por vezes as melodias vocais lembram aquelas do desenho. Claro que isso se deve em grande parte à presença da baixista Chloe Arper, que canta em algumas músicas. Mas o que faz mesmo me lembrar do desenho são as partes com melodias vocais polifônicas claramente inspiradas na banda The Beach Boys.
Você não leu errado. Em The Dark Third, seu álbum de estreia, a banda mistura propositalmente timbres e estruturas modernas, incluindo sons eletrônicos bem dosados, com elementos de rock psicodélico e algumas pitadas sinfônicas, adicionando ótimas melodias vocais com enorme competência, o que confere originalidade ao seu trabalho e agrada a um público variado.
O álbum começa arrasador nas quatro primeiras faixas, variando de forma muito eficiente os estilos citados, com especial destaque para “Goshen’s Remains”, que tem uma melodia vocal daquelas que grudam no ouvido e não largam, e para “The Bright Ambassadors of Morning”, faixa mais progressiva de quase doze minutos que mistura todos os estilos, incluindo aí a repetição de melodias vocais sob roupagens diferentes.
A partir da quinta música, a banda não se mostra tão inspirada, embora os resultados estejam longe de ser ruins. A banda segue ora por um caminho mais calmo, em que os resultados não são tão impactantes, ora por um estilo mais pesado, com algum exagero. A exceção é a última faixa, “He Tried to Show Them Magic – Ambassadors Return”, uma releitura da faixa mais longa do disco que retoma o pique do início do álbum.
Na média, entretanto, The Dark Third é um álbum que se destaca, fato que gerou grande expectativa em torno da banda, que se tornou razoavelmente conhecida. Pena que os discos que vieram depois não cheguem nem perto do seu álbum de estreia, como acontece com várias bandas promissoras. Fica aqui a torcida para que eles repitam a fórmula e lancem mais um grande disco.
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1 de jan. de 2011
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